sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Mundoer

Perdão a quem lendo
não me consegue entender
nem eu bem entendo
o que estou a escrever.
Já não tenho, em mim, lugar
ou casa onde guardar
tanta dor
por favor
escrevo. Talvez alguém lendo
me saiba dizer
como posso eu viver
neste furacão tremendo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Desenho desanimado

Talvez existissem menos dilemas
Talvez existissem menos guerras
Talvez existissem menos fomes
 Talvez existissem menos doenças
Talvez existisse menos solidão
Se o Mundo tivesse legendas
em vez de ter armas
Se o Mundo tivesse legendas
em vez de ter terras
Se o Mundo tivesse legendas
em vez de ter nomes
Se o Mundo tivesse legendas
dos livros para crianças
Se o Mundo tivesse legendas
do nosso coração
Por isso escrevo a emoção
e estas são as minhas legendas.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Racionalizar/"Emocionalizar"


Julgo que nunca perdi as emoções; julgo que, na maioria das vezes, só me perdi das emoções. Embora elas nasçam no centro mais centro do eu, o meu nevoeiro perceptivo faz-me perder o Norte e, quando as tento abraçar, viro-me para o lado errado e acabo abraçada ao vazio. É por isso que gosto mais das emoções que gritam - não, não são necessariamente as mais fortes, devem ter voz por outro motivo qualquer que ainda não encontrei - mesmo que mordam, mesmo que rasguem, mesmo que doam muito: não há nada pior que o abraço do vazio, não há nada pior do que ficar pendurada no nada, num tic sem tac, não há nada pior que não conseguir ligar-me ao Mundo quando a emoção não faz a ponte e tentar, quase sempre em vão, inventar a emoção adequada, porque não sei qual é a minha. Racionalizar é muito fácil; emocionalizar é um labirinto sem esquerda nem direita, sem pontos de referência, nevoeiro cerrado entre o eu e a luz. Deve ser por isso que escrevo, é como se criasse veias de linhas por onde circulo as emoções montadas em palavras para fora de mim. E, fora de mim, consigo ler-me melhor, consigo ler o mundo melhor... Acho eu... Eu chamo-me Ana e julgo que o nevoeiro que me faz cega ao mundo, sem ser cega, que me faz surda ao mundo, sem ser surda, que não me deixa emocionalizar como processo inconsciente, não está entre mim e mundo, está entre o eu e o mim.