sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Sentinela

Cuidaremos da nossa eternidade
como se cuida de um livro
O nosso tempo trespassará

as margens das páginas
e o amarelo de cada Sol
um dia, repousará
mas entranhará as horas e as linhas
de tantas recordações.
Lá fora, a idade espreita-nos,
sempre de sentinela, embala-nos
a capa do amor que amadurece
mas nunca, nunca
aprenderá a envelhecer.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Passagens

Todos os ponteiros e todos os degraus
são intransigentes.
Os ponteiros empurram os dias
são a força de cimento e betão do tempo.
Os degraus nunca se apiedam, nem descem,
são a mármore inviolável
extraída na direcção e medida do caminho.
E nós? Subimos os degraus,
pasmados com os passos de uma vida
debaixo dos ponteiros

pasmados com tantos ecos, nas arcadas,
são ecos dos fantasmas de todos os minutos
que condenámos à morte por embotamento.
Tudo passa, tudo passa:
eu não quererei passar mais
sem que tudo esteja terminado.