quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Racionalizar/"Emocionalizar"


Julgo que nunca perdi as emoções; julgo que, na maioria das vezes, só me perdi das emoções. Embora elas nasçam no centro mais centro do eu, o meu nevoeiro perceptivo faz-me perder o Norte e, quando as tento abraçar, viro-me para o lado errado e acabo abraçada ao vazio. É por isso que gosto mais das emoções que gritam - não, não são necessariamente as mais fortes, devem ter voz por outro motivo qualquer que ainda não encontrei - mesmo que mordam, mesmo que rasguem, mesmo que doam muito: não há nada pior que o abraço do vazio, não há nada pior do que ficar pendurada no nada, num tic sem tac, não há nada pior que não conseguir ligar-me ao Mundo quando a emoção não faz a ponte e tentar, quase sempre em vão, inventar a emoção adequada, porque não sei qual é a minha. Racionalizar é muito fácil; emocionalizar é um labirinto sem esquerda nem direita, sem pontos de referência, nevoeiro cerrado entre o eu e a luz. Deve ser por isso que escrevo, é como se criasse veias de linhas por onde circulo as emoções montadas em palavras para fora de mim. E, fora de mim, consigo ler-me melhor, consigo ler o mundo melhor... Acho eu... Eu chamo-me Ana e julgo que o nevoeiro que me faz cega ao mundo, sem ser cega, que me faz surda ao mundo, sem ser surda, que não me deixa emocionalizar como processo inconsciente, não está entre mim e mundo, está entre o eu e o mim.

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